JOHN CALVERT E O ESPECTÁCULO MAGICARAMA
Em meados deste ano atracou no Porto o iate MAGIC CASTLE, propriedade do ilusionista JOHN CALVERT, que nele se fazia transportar juntamente com a sua esposa (e partenaire) TAMMY e o seu empregado Henry. A bordo também vinha todo o equipamento do seu grande espectáculo MAGICARAMA, o qual podia ser apresentado em qualquer cidade costeira em que decidisse parar durante as suas viagens marítimas, bastando, para tal, contratar alguns ajudantes locais.
Foi precisamente isso que aconteceu no Porto. O seu primeiro contacto foi com o JOFERK, o qual o apresentou aos mágicos do CIF. Desde logo ele manifestou a vontade de apresentar o seu espectáculo na nossa cidade, pelo que foi encaminhado para a sala de espectáculos que seria adequada para o efeito e que já tinha alguma tradição de receber espectáculos de ilusionismo (o último havia sido em 1972, com RICHIARDI Jr. como cabeça de cartaz): o Teatro Sá da Bandeira.
Dado que eu tinha um certo à-vontade na língua inglesa disponibilizei-me para ser o seu tradutor na abordagem à gerência do Teatro Sá da Bandeira. Depois do "negócio" ter sido fechado, CALVERT tinha que completar o elenco com "mão-de-obra" local. Ele tentou contratar os quatro assistentes masculinos de que necessitava no âmbito dos ilusionistas jovens do CIF, tendo conseguido apenas três: eu próprio, Raul de Carvalho "UL-DE-KAR" e José Ribeiro "JOY". Nove das dez assistentes femininas que necessitava foram contratadas num casting realizado na sequência de um anúncio publicado na imprensa. Observar tal casting e perceber as razões de CALVERT para optar por uma assistente em detrimento de outra foi uma das muitas lições que a minha temporada junto do grande ilusionista americano me proporcionou. Perceber como se monta um grande espectáculo teatral de duas horas foi outra.
O espectáculo não foi um estrondoso êxito e o facto de ter decorrido em pleno verão também não o favoreceu, mas direi que a grande maioria dos espectadores que a ele assistiram saíram da sala satisfeitos e com a noção de terem passado duas horas de bom entretenimento. Claro que não se pode agradar a toda a gente... Por isso a crítica escrita por CARDINAL na sua colaboração semanal nas páginas do JN, não foi a melhor. E, nessa crítica, a minha colaboração também foi questionada.
Mesmo antes de ler o texto de CARDINAL, já tinha percebido que fazia alguma confusão a certas mentalidades do nosso meio mágico que eu, tendo obtido poucos meses antes o 1º Prémio de Manipulação no Festival Mágico da Figueira da Foz, aceitasse uma simples posição de ajudante num espectáculo de Ilusionismo. No entanto, não me "caíram os parentes na lama" por fazê-lo e proporcionei a mim mesmo, numa fase inicial da minha carreira, a possibilidade de obter um conjunto de valiosos ensinamentos que, de outra maneira, demoraria vários anos a conseguir.
Entre os diversos quadros do espectáculo nos quais participei, destaco "O Boudoir Feminino" que viria, anos mais tarde a servir de inspiração para o número final da rotina com a qual o grupo DESERTO & COMPANHIA viria a conquistar um 3º lugar no ESTORILMÁGICO CASCAIS 97. É precisamente desse quadro a fotografia seguinte.
Também um outro quadro ("Histórias por Frankenstein") me merece destaque pois serviu de base para o desenvolvimento da rotina "A Decapitação" do grupo SKORPIUS.
Além do tempo de ensaios e actuações no espectáculo MAGICARAMA, passei muitas horas em conversas com CALVERT no seu iate (atracado na Ribeira do Porto), nas quais tentei absorver o maior número possível de ensinamentos do showman americano. Dele guardo carinhosamente uma gigantesca brochura de promoção artística (com dedicatória) e a fotografia (também com dedicatória) que, seguidamente, reproduzo.
Uma gravação do espectáculo MAGICARAMA efectuada 10 anos mais tarde (quando Calvert já tinha 84 anos de idade) pode ser vista aqui:
E, porque o ano de 1975 é fértil em recordações, tal como prometido, haverá um terceiro post. Será publicado amanhã.
1 comentário:
É muito interessante ler a critica de Cardinal ao espectáculo de John Calvert e constatar que usou expressões tão duras como:
"...desapareça com o seu iate"
"...faça-se ao mar e escolha outro país para o seu porto."
"Escolha outra moeda para trocar em dólares. O escudo tem demasiado valor e não pode entrar nas suas algibeiras..."
"Para amenizar este «desastre» mágico..."
"Parta, sr. John Calvert. Esse será por certo o melhor dos seus truques."
As criticas são duras, mas sejamos honestos, Cardinal estava no seu direito para as fazer.
Uma vez que não gostou, porventura sentiu-se no dever de dar a sua opinião.
Não tenho nada contra.
Contudo, devo observar a memória curta de Cardinal porque, quando uns anos mais tarde o grupo Os 4 de Pau publicou duras criticas ao Festival Magico Valongo, a que ele presidia, não gostou e tentou impedir a entrada dos membros do grupo no evento, revelando uma forma muito mesquinha de vingança. Ele e todos os restantes membros da organização, com excepção do Ivo que, não concordando com tal posição, "bateu a porta" e abandonou a organização.
Moral da história: O sr. Cardinal gosta de "malhar" nos outros mas não gosta que "malhem" em si.
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