sábado, 12 de fevereiro de 2022

1976 - ANO QUATRO


A FISM NA CIDADE DE JOHANN STRAUSS 

Para mim este ano iniciou-se com o meu primeiro contrato com o "Monumental Casino" da Póvoa do Varzim, mas o facto mais relevante do ano foi o 13º CONGRESSO FISM, realizado em Viena (Áustria) entre 7 e 11 de Julho. 

Não tendo, obviamente, o mesmo impacto que, três anos antes, tivera em mim a FISM de Paris (relembro que, nessa altura, era "virgem" em relação a congressos e festivais de magia), foi um congresso que me proporcionou assistir a inúmeras actuações de elevada qualidade. E a primeira que me vem à ideia é a soberba actuação de BORRA, um artista de pickpocket, mas, no fundo, um verdadeiro showman, com uma capacidade de lidar e interagir com a presença de espectadores em palco como, até então, nunca tinha observado.

Também foi a primeira vez que assisti a uma actuação da dupla THE MORETTIS, que tanto furor viriam a fazer, nos anos subsequentes, em festivais e congressos de Magia com a sua inigualável "Caixa das Espadas em Cartão". Igualmente, a participação da dupla espanhola NICHOLS & HONEY (com os quais viría a fazer amizade) no espectáculo de gala que decorreu no "Theater an der Wien" foi objecto de muitos elogios. A sua "Cesta Hindu" permanece como sendo a melhor que vi até hoje. O DUO ABSOLON teve uma actuação soberba com a impecável manipulação de chaves e correntes, devidamente enquadradas num pequena "peça teatral" em que personificavam carcereiro e prisioneira. No mesmo espectáculo foi, igualmente, fantástico rever as fabulosas rotinas de ALI BONGO e SHIMADA.

Numa outra gala foi muito bom poder assistir à actuação de duas verdadeiras lendas vivas: PROF. SITTA (uma actuação sua pode ser vista aqui) e KUDA BUX (uma actuação sua pode ser vista aqui). A rotina apresentada por este último ainda hoje tem, para mim, alguns contornos de verdadeiro mistério.

Os concursos também proporcionaram muitos momentos de elevada qualidade. Em Micromagia a actuação que ainda recordo é a de ALDO COLOMBINI (que, na época, usava o nome artístico "MR. FABIAN") e os seus covilhetes "voadores". Notar que obteve o segundo lugar na competição, mas, na óptica de muitos, merecia o primeiro. Anos mais tarde, essa rotina seria publicada num livrinho editado por Supreme Magic e eu iria usá-la como base de uma rotina mágica que apresentei em diversos espectáculos. Em Cartomagia recordo a excelente rotina do espanhol TONY CACHADIÑA.

Nos concurso de palco recordo, naturalmente, PIERRE BRAHMA, que foi galardoado com o Grande Prémio com a sua rotina de jóias e moedas. É fantástico admirar um artista que ultrapassa um forte handicap (falta de audição) e consegue uma actuação perfeita ao ritmo da música. As actuações de JAN TORELL (2º lugar em Magia Geral), PETRICK & MIA (não obteve prémio), e ROY GARDNER & ASSISTANT (1º lugar em Magia Cómica) foram prestações que, igualmente, permanecem na minha memória.

No que se refere à componente social o programa estabelecia uma ceia num "Heuriger" (uma típica taberna vienense). A comitiva portuense (alguns dos quais tinham experienciado a recepção na Orangerie do Palácio de Versalhes na FISM 1973) abordou o cumprimento deste ponto do programa na expectativa de um opíparo jantar. Por isso o copo de vinho que foi servido acompanhado de algo para "picar" soube a muito pouco. Valeu o descontraído ambiente de convívio em que grupos de diversas nacionalidades cantaram espontaneamente canções típicas dos respectivos países. E o vinho fazia um belo efeito... Terá sido essa a razão pela qual, à saída, um dos congressistas queria levar, como "recuerdo", a cadeira em que estivera sentado?

Na comitiva portuense, a visita ao "Heuriger" teve uma consequência que poderemos classificar de... "humorística". Passados dois dias estava programada uma recepção na Câmara Municipal de Viena seguida de baile. O vestuário recomendado era, naturalmente, formal, mas nada era especificado quando a "comes e bebes". Por isso, no trajecto para o Wiener Rathaus, paramos numa roulotte de comida rápida e, ali mesmo, em pé e trajando os nossos melhores fatos de gala, tratámos de aconchegar o estômago para o caso de se repetir a situação vivenciada no "Heuriger". Esse "aperitivo" ingerido por precaução não nos impediu de apreciar o excelente jantar de gala que nos foi proporcionado no palácio.

Na Feira Mágica do Congresso tive que ser bastante selectivo quanto a compras, pois ainda era estudante e a mesada não era elástica. Mas adquiri dois livros fundamentais para a boa formação de qualquer mágico: "The Dai Vernon Book of Magic" e "The Magic of Slydini", ambos da autoria de Lewis Ganson.

No pouco tempo que o Congresso me deixou livre, pude passear por Viena e sentir a cultura ser emanada em parques e jardins. Lembro-me, durante anos, de pensar que, se algum dia tivesse que escolher uma cidade estrangeira para viver, essa cidade seria, indubitavelmente, Viena.

Mais alguns factos marcaram o panorama mágico português no ano de 1976, os quais, seguidamente se registam de forma breve. Em 9 de Julho faleceu D. AGUINALDO. Aqui registo que recebi dele importantes ensinamentos quando estava a preparar a minha rotina de manipulação de cigarros acesos. Um desses ensinamentos foi perpetuado no artigo "LEMBRANDO D. AGUINALDO" que escrevi e foi publicado em "A Folha Mágica" (CIF) de Abril de 1995. Seguidamente apresento dois curiosos  panfletos publicitários de D. AGUINALDO, datados de 1951 e 1965.

Em 20 de Agosto foi efectuada a escritura relativa à criação da Associação Portuguesa de Ilusionismo. Por coincidência, nesse mesmo dia estreou em Lisboa o espectáculo "O Mundo Fantástico da Magia" encabeçado por RICHIARDI Jr.. Foi uma tentativa de reeditar o êxito que, em 1972, tivera o "1º Festival Internacional de Magia", mas a época do ano (Verão) não foi propícia, tal como não tinha sido, no ano anterior, para o espectáculo de JOHN CALVERT, no Porto. Como o espectáculo não veio à cidade invicta, desloquei-me a Lisboa para, a ele, poder assistir. No respectivo elenco destaco, além de RICHIARDI Jr., as presenças de RICHARD ROSS (que, em 1973, na FISM Paris conquistara pela segunda vez o Grande Prémio) e OTTO WESSELY.

NOTAS DE RODAPÉ

Nota de sinal + : A FISM de Viena.
Nota de sinal + : A criação da Associação Portuguesa de Ilusionismo.
Nota de sinal - : O falecimento de D. AGUINALDO.

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