sábado, 30 de julho de 2022

2000 - ANO VINTE E OITO (Parte 1)


 O ESPECTÁCULO DE DAVID COPPERFIELD...

O último ano do século passado (que, curiosamente, é também o último ano do milénio passado...) trouxe muita e boa magia a Lisboa. Deixarei para o post que colocarei amanhã o assunto FISM 2000, que teve o seu quartel-general no Centro Cultural de Belém, e irei abordar neste o espectáculo de DAVID COPPERFIELD que realizou uma curta temporada no Pavilhão Atlântico.

Mal foi anunciada tal temporada, tratei de adquirir três bilhetes para ir com a Fátima e o Helder a Lisboa assistir a um desses espectáculos. Para permitir uma deslocação confortável de ida e volta no mesmo dia escolhemos a primeira sessão (15 horas) de sábado 17 de Junho, que o bilhete reproduzido documenta.

Acontece que, já depois de ter adquirido tais bilhetes, verifiquei que a TV Guia dava apoio à divulgação do espectáculo de COPPERFIELD, realizando um passatempo entre os seus leitores. Tanto quando me lembro esse passatempo era constituído por duas perguntas que estavam formuladas, mais ou menos, nos seguintes termos:

1 - Quem gostaria que DAVID COPPERFIELD fizesse desaparecer e porquê?

2 - Gostaria que DAVID COPPERFIELD o fizesse desaparecer? Justifique.

Ora, na época, a relação entre Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho era um tema muito badalado nas revistas da imprensa cor-de-rosa, merecendo, quase semanalmente, destaque na capa de uma ou mais dessas revistas. Por isso decidi glosar tal tema com as respostas seguintes (Nota: se não foi exactamente esta a redacção das respostas, o teor das mesmas transmitia as ideias seguidamente expressas):

1 - Gostaria que fizesse desaparecer o Manuel Maria Carrilho para fazer um favor à Bárbara Guimarães. (Nota: uma resposta que, na altura, era meramente humorística revela, passados 22 anos, um "assustador" lado premonitório

2 - Sim, gostaria que me fizesse desaparecer pois não tenho esperança de merecer os favores da Bárbara Guimarães.

E não é que fui o premiado!... Por isso tive direito a dois bilhetes para a segunda sessão (creio que se iniciou às 18h30m) e convite para participar num dos efeitos mágicos apresentado por DAVID COPPERFIELD no seu espectáculo: aquele em que ele fazia desaparecer 13 espectadores em palco!

Em face deste prémio, levei comigo a Lisboa os meus cunhados UL-DE-KAR e FERKAR que juntamente com o HELDER assistiram ao espectáculo das 15 horas, enquanto eu e a Fátima "fazíamos horas" para assistir à 2ª sessão, na qual eu iria "desaparecer"... Esse "desaparecimento" iria ser notícia na TV Guia de 30 de Junho, conforme mostra o seguinte recorte.


O espectáculo de COPPERFIELD foi, naturalmente, muito bom, mas participar numa das ilusões foi mesmo "a cereja no topo do bolo". Enfim foi um momento que guardo nas minhas memórias emocionais a par daquele que já anteriormente relatei e que foi vivido na FISM 1991 quando, por breves instantes, segurei na lâmpada de HARRY BLACKSTONE Jr.

Obviamente não vou revelar como "desapareci" acompanhado por mais 12 espectadores escolhidos ao acaso. Em primeiro lugar porque não seria eticamente correcto e em segundo lugar porque, antes do espectáculo, assinei um compromisso escrito para não o fazer. Dado que os restantes espectadores que "desapareceram" foram seleccionados aleatoriamente por um balão, nenhum deles tinha assinado previamente idêntico compromisso. Creio que o facto de eu ter sido seleccionado através de um orgão de comunicação social, obrigou o COPPERFIELD a cuidados extra não fosse o caso do passatempo da TV Guia ser um mero expediente para tal publicação meter um jornalista dentro do espectáculo, e, posteriormente, fazer a revelação bombástica de como tal ilusão era concretizada.

No final do espectáculo, COPPERFIELD veio pessoalmente agradecer a nossa colaboração (oferecendo a fotografia autografada que inicia este post) e pedir o nosso sigilo quanto ao método utilizado. Gostei particularmente da maneira como ele sugeriu algumas descrições que as pessoas podiam fazer aos amigos e familiares que, indubitavelmente, iriam querer saber como tudo tinha sucedido. A preocupação revelada quando ao facto de não fazermos a saída para o exterior todos ao mesmo tempo foi mais um ponto que me mostrou (se tal fosse necessário) como, nas grandes produções, tudo está pensado ao pormenor.

Enquanto eu assistia ao espectáculo o Helder, na companhia dos tios e do FRED ALAN (que, coincidentemente tinha ido a Lisboa ver o mesmo espectáculo), andou a deambular pelas cercanias do Pavilhão Atlântico. E nessas deambulações, os quatro tiveram um verdadeira experiência mágica que quase parecia suplantar o espectáculo de COPPERFIELD...

Quando acabou o espectáculo e após ser revertido o meu "desaparecimento", eu e a Fátima reunimo-nos com eles para comer qualquer coisita antes de arrancar de regresso ao Porto. E é aí que me apercebo que algo se tinha passado... algo que ninguém parecia querer contar!... O Helder mantinha-se "sisudo", mas os tios, volta e meia, lançavam risadas verdadeiramente suspeitas. Quase a acabar a breve refeição lá consegui arrancar a história do que se tinha passado.

Nas suas deambulações tinham deparado com um "animador de rua" que possuía um boneco feito em papel, o qual dançava sempre que ele ligava o rádio portátil e o som da música estimulava a veia dançarina do boneco. Claro que, ao ver tal performance, a primeira ideia que surgiu aos mágicos ali presentes foi que a razão da dança estava na existência de um fio manipulado pelo dono do boneco. No entanto nenhum fio era visível, qualquer que fosse o lado em que se encontravam a observar o boneco dançarino. E até houve quem se deitasse no chão a espreitar!

Questionado o "animador de rua" quanto à razão da dança protagonizada pelo boneco, apenas conseguiram arrancar-lhe uma resposta repetitiva: "É a música... A culpa é da música." Por isso, verdadeiramente ilusionados de uma maneira que COPPERFIELD não conseguira fazer, decidiram comprar um boneco ao homem. O HELDER comprou um, o UL-DE-KAR comprou outro e o FRED ALAN comprou dois, com medo que um se pudesse estragar rapidamente.

Claro que, ao abrir o saco plástico onde vinha o boneco, perceberam que a razão da dança era mesmo um fio finíssimo. Por isso, ficaram com uma grande cachola, por não terem acreditado na sua própria intuição quanto ao modus operandi do boneco. Mas convém acrescentar que o "animador de rua" não os estava a enganar ao dizer que a culpa era da música. Como o fio era preso na ponta da antena do rádio portátil, a música a tocar transmitia vibrações à antena e eram essas vibrações que faziam dançar o boneco.

Ligada intrinsecamente ao espectáculo de DAVID COPPERFIELD ainda tenho mais uma memória para partilhar. Na segunda-feira seguinte, por volta das 11 horas, sou surpreendido, no escritório onde trabalhava, por um telefonema do ANORK. Ora, naquele tempo, eu ainda não tinha telemóvel (até porque ainda era um gadget pouco comum e excessivamente caro) e, por outro lado, tinha a certeza que nunca lhe havia facultado o conhecimento do meu número telefónico fixo do trabalho. Mas rapidamente fiquei a perceber que ele ligara para minha casa e, face à urgência que ele tinha em me contactar, a Fátima facultara tal informação.

E qual era a urgência do ANORK em falar comigo? Depois de dizer que, no sábado anterior, gostara muito de me ver no palco do Pavilhão Atlântico, mostrou imediatamente ao que vinha: queria saber como funcionava o truque da desaparição dos 13 espectadores que vira o COPPERFIELD apresentar e no qual eu tinha participado. Claro que me mantive fiel ao compromisso assumido e respondi, de uma forma cordial (mas firme) que qualquer mágico conhecedor como ele era, conseguia, rapidamente, encontrar três ou quatro soluções para realizar aquele truque e que, de certeza, a solução implementada pelo COPPERFIELD era uma dessas.


... E ALGUNS ESPECTÁCULOS DO JOMAGUY

Em 29 de Janeiro participei na Gala de São João Bosco (CIF) como tantas outras vezes. Apenas refiro esta actuação em particular, pois nela, em vez da minha habitual rotina "Peixe cortado e recomposto" apresentei "Girafa cortada e recomposta" numa crítica bem explícita a quem me havia copiado a rotina do peixe.

Em 21 de Março actuei num jantar promovido pelo Clube Portuense. Apenas refiro esta actuação pois ela foi fruto de um cartão de visita que, sete anos antes, tinha entregue a um cliente numa das minhas actuações numa casa de fado. Este contrato apenas veio confirmar uma ideia que sempre esteve presente em mim: um cartão de visita "diferente" (como o que imagem acima reproduz) é algo que as pessoas guardam durante anos.

Em Junho, participei na 3ª edição dos "Encuentros La Barranca". Em Julho e Agosto voltei a realizar diversas actuações como parte integrante da animação a bordo do Paquete Funchal. 

Também foi em 2020 que adquiri o livro (imprescindível para qualquer mágico) "La Magia de Ascanio - La concepción Estrutural de la Magia" e que faleceu o Sr. EDUARDO FRANCO. 


POST SCRIPTUM (Em 23 de Abril de 2024)

Quando redigi este post, não consegui encontrar os recortes da TVGuia que ilustrassem as respostas textuais que me tinham permitido ser o escolhido como vencedor do passatempo supracitado.

Mas, como “o que é vivo sempre aparece”, hoje encontrei, na minha papelada, um recorte da TVGuia nº 1116 (relativa à semana de 23 a 29 de Junho de 2000), o qual me permite documentar mais pormenorizadamente o assunto em causa. Para tal aqui deixo duas imagens.




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