A MINHA PRIMEIRA "FIGUEIRA"
O ano de 1973 reservava ainda um evento relevante para eu vivenciar, desta vez como concorrente: o II Festival Mágico da Figueira da Foz, organizado pela "carolice empenhada" de Fausto Caniceiro da Costa. Concorri na modalidade de Magia Geral e fruto das inovações que, pouco tempo antes, vira na FISM de Paris, optei por substituir as "tradicionais" mesas de mágico por um cenário que aparentava ser um muro feito em tijolo "burro". Tal cenário foi fabricado em madeira e era dividido em três secções principais (e grandes), as quais eram unidas por intermédio de dois blocos de dimensões mais razoáveis para transporte.
Como não tinha carro nem carta de condução, "cravei" o Dr. Homero Rocha (DE ROCK) para me dar boleia para a Figueira da Foz. A viagem de ida foi efectuada de dia e o entusiasmo partilhado pela participação no Festival ocupou o nosso diálogo e fez parecer rápida uma viagem naturalmente demorada, pois a auto-estrada para aquele destino ainda não havia sido construída. O espaço entre bancos da viatura era ocupado pelas peças maiores do meu "muro", pois a mala do SIMCA 1100 não tinha bagageira com arcaboiço para as mesmas.
A presença no Festival da Figueira permitiu-me ter contacto pessoal com alguns mágicos do sul do país, os quais apenas conhecia de nome. SAIUR, JODIVIL e JÓNIO foram três deles. A minha prestação no concurso de Magia Geral foi modesta, tendo obtido o 6º lugar entre 11 concorrentes. Matematicamente falando: exactamente a meio da tabela! Nada mau para um principiante. Mas o que verdadeiramente destaco de todo o ambiente vivido nesse Festival foi a camaradagem nos bastidores e sentido de entreajuda dos diversos concorrentes.
O programa do Festival terminou no domingo (7 de Outubro) com o Espectáculo de Gala e distribuição de prémios. Claro que o 6º lugar não dava direito a prémio, mas permitiu-me obter um diploma de participação.
Uma desenvolvida reportagem sobre este Festival Mágico da Figueira da Foz foi transmitida no programa Movimento da RTP e pode ser apreciada aqui.
Terminado o espectáculo, havia que arrumar as "tralhas" no SIMCA 1100 do Dr. Homero Rocha. E com uma dificuldade acrescida: o Ivo (que algum tempo depois adoptaria o nome artístico de Fred Alan) também iria viajar connosco para o Porto... Ele e a sua bagagem, claro! O Ivo estava consciente da dificuldade que iria ter em encaixar-se, juntamente com o meu "muro", no banco de trás da viatura, mas ele era elegante e cabia, seguramente, melhor do que eu.
Convém aqui fazer uma breve referência ao facto do Dr. Homero Rocha ter alguma insuficiência visual (obviamente corrigida com óculos de elevada graduação) pelo que adoptava, na condução nocturna, (ainda) mais precaução do que na respectiva condução diurna. Quer dizer que as estradas dessa época aliadas a tal facto fizeram com que chegássemos ao Porto por volta das 7 horas da manhã (tínhamos saído entre as 2 horas e as 2 horas e meia da Figueira da Foz). Eu viajava na frente, no chamado lugar do "pendura", e cedo me apercebi do cansaço acumulado pelo nosso "motorista". Sendo assim, passei toda a viagem em permanente diálogo com ele, a fim de garantir que o mantinha bem acordado.
O Ivo, que, no arranque da viagem, participava na nossa conversa, cedo abandonou a mesma e, aconchegando-se no banco traseiro atrás do meu "muro", adormeceu, deixando-me só na importante missão de manter o Dr. Homero Rocha bem desperto. A certa altura eu reparei nesse facto e disse:
- Ó Dr. Homero, o Ivo já dorme profundamente...
De imediato, o meu interlocutor respondeu:
- Ó Jomaguy, eu até já me tinha esquecido que o Ivo viajava connosco!...
E o Ivo lá acordou... quando chegamos ao Porto e fizemos a primeira paragem para descarga de material. Foi precisamente à porta da minha residência. Começámos a descarga pelas diversas peças do meu "muro" e, a certa altura, o Ivo retirou do carro uma pequena mala e colocou-ma à porta, pensando que era minha. Imediatamente lhe disse que aquela mala não é minha, o Dr. Homero Rocha também não reconheceu a mala como sendo sua e, obviamente também não era do Ivo. Conclusão: na confusão de malas e materiais que havia nos bastidores tínhamos trazido para o Porto uma mala que não era de nenhum de nós!
Abriu-se ali mesmo a mala e, pelo respectivo conteúdo, percebeu-se, de imediato, que era o material do espectáculo do SERIP. O Dr. Homero Rocha prontificou-se a ficar com a mala e contactar o SERIP para ver a melhor maneira de lha fazer chegar às mãos. Soube depois que o SERIP andou toda a noite às voltas nos bastidores e camarins do Casino da Figueira da Foz à procura do seu material, pois ia para o estrangeiro cumprir um contrato de actuações e, sem o material, nada feito.
NOTAS DE RODAPÉ
2 comentários:
Grande aventura, são histórias como essa que dão cor aos dias.
A falta que fazia o telemóvel...
O pobre do Serip deve ter tido insónia nessa noite.
Que é feito do Serip?
Rui, o SERIP vive em Itália. Podes saber mais aqui:http://xoomer.virgilio.it/jiimm/serip.htm
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